“No
primeiro dia da escola primária, foi um jovem que nos recebeu. Éramos um pequeno grupo de crianças. Ele tinha uma aura de gentileza, bondade, e era muito simples. Conversou connosco, apresentou-nos a escola. Nós estávamos encantados com a receção, entusiasmados e sempre a brincar. Então, o jovem disse que tinha de sair, porque mais crianças chegariam. Combinámos ir atrás dele para ver. Voltámos a correr e a rir à entrada da escola. E, aí, eu parei subitamente e permaneci a observar, surpreendida. As crianças que chegavam, éramos novamente nós! Olhei para os meus colegas para ver a reação deles. Eles viram, mas demasiado vagamente, não entenderam o que se estava a passar e dispersaram. Foram brincar. Não notavam que se repetiam constantemente, gerando uma multidão. Eu não fui brincar, fiquei à parte. Lentamente, aproximei-me do jovem e toquei no seu braço. Ele olhou para mim com compaixão. Não pôde dizer nada, mas o seu olhar era de reconhecimento e de confirmação de que, sim, eu estava a perceber. A nossa vontade infantil de querer como que repetir a vivência da chegada à escola dividiu-nos. Eu era a criança que tinha vivido, mas agora era também a criança que queria reviver. E, assim começou a fragmentação. Naquele momento, não soube o que fazer, eu já estava no tempo! Mas, iniciou-se uma ação de observação no sentido de uma unificação, de um viver humano integrado, além da fragmentação do tempo." (Loio, R., 2025)